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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Urbanização da orla da praia do amor - Outeiro, Pará(2005)

Outeiro é uma localidade balneária situada na Ilha de Caratateua, próxima ao Distrito de Icoaraci, todos pertencentes ao Município de Belém. Suas praias de água doce são banhadas pela Baía do Guajará, e a proximidade à Belém (18 Km por via rodoviária), juntamente com a facilidade de seus acessos, fazem com que essas praias sejam bastante procuradas em finais de semana, feriados e períodos de férias.

Fig.1 - Praia do Amor. Situação Atual


Dentre as diversas orlas das praias integrantes do complexo balneário em questão, a Orla da Praia do Amor, objeto da intervenção proposta pelo presente projeto, é uma das que menos infra-estrutura possui. Em toda a sua extensão, aproximadamente de 350 metros, há abundante arborização, com espécies dos mais variados tipos e portes. Não existe via litorânea, sendo direta a interface entre a praia e os lotes a ela lindeiros. Esses lotes não guardam alinhamento retilíneo, seus limites não parecem seguir disciplina comum a todos, e seus acessos, tanto de pedestres quanto de veículos, se processa pela areia, nos trechos onde a trafegabilidade é possível. Em períodos de grandes marés, a água se aproxima bastante dos lotes, dificultando ainda mais seus acessos. Independentemente da ausência da rua formalmente constituída, existe tráfego e estacionamento de veículos ao longo da orla, de forma livre e desorganizada.

Fig.2 - Vegetação Abundante

Fig.3 - Vegetação abundante

Fig.4 - Alinhamento Irregular

Fig.5 - Tráfego e estacionamento desorganizado


Atualmente, o acesso à Praia do Amor é realizado por cinco vias, que ligam a Avenida Paulo Costa diretamente à areia da praia. Essas vias, a Alameda Enock Pinto, a Alameda Maria do Carmo, a Alameda Praia do Amor, a Alameda João Amanajás e a Alameda Princesinha do Mar, todas em declive no sentido da praia, estão em precárias condições, algumas com revestimento asfáltico deteriorado e outras com pavimentação em piçarra, desgastada pelo natural carreamento desse material. Em nenhuma delas existe rede de drenagem, a qual se faz de maneira superficial, com as águas de chuvas correndo livremente rumo à praia. Em alguns pontos, esse processo erodiu o solo criando fendas e obrigando a população local a improvisar estruturas para evitar alagamentos e maior destruição da área.

Fig. 6 - Alameda Maria do Carmo


Fig.7 - Alameda Praia do Amor

Fig. 8 - Alameda João Amanajás
Fig.9 - Solo Erodido



Existem algumas poucas estruturas públicas edificadas no local. À oeste, uma escada em concreto que liga à orla da praia adjacente marca o início da área em questão, e à leste uma ponte em madeira, em péssimo estado de conservação, posiciona-se quase no final do trecho a ser tratado. Ambas as estruturas atravessam cursos d’água de pequeno porte, e desempenham, apesar da precariedade de suas configurações físicas, importante papel no sistema de circulação de pedestres do conjunto.

Fig.10 - Escada em concreto

Fig.11 - Ponte em madeira

Em todo o local, existe sistema de iluminação pública, ineficiente, contudo, não apenas em virtude da pouca quantidade de luminárias, mas, também, da densa arborização existente.


A área a ser tratada tem como uso predominante, além do lazer proporcionado pela balneabilidade da Praia do Amor, atividades de comércio e serviços. Os lotes voltados à praia abrigam, em sua grande maioria, bares, lanchonetes, restaurantes e pousadas, os quais dão suporte à presença da população que freqüenta o local. Os estabelecimentos que comercializam alimentos utilizam área externa aos limites de seus lotes, atendendo suas clientelas não apenas nas dependências privativas, mas, também, em mesas colocadas na área pública, sob as sombras das árvores que se distribuem, fartamente, pelo local.

Fig.12 - Mesas na areia

Fig.13 - Mesas na areia


Nos últimos anos, com o aumento da afluência de público no local e o esgotamento da disponibilidade de lotes para a implantação de novos estabelecimentos comerciais que possam suprir as necessidades dos usuários, tem se observado o aparecimento de pontos de vendas, ainda que de pequeno porte, sobre a área da praia, caracterizando o início de um processo de privatização do espaço público.
O local, como um todo, é bastante agradável. A beleza natural decorrente da presença conjunta da ampla praia fluvial e vegetação abundante, aliada ao serviço de apoio de razoável eficiência, fazem do conjunto um lugar aprazível. Entretanto, o tipo de atividade ali desenvolvida juntamente com a dificuldade de acessibilidade que a ausência de um sistema viário formal acarreta, conferem à área uma forte tendência à degradação e insegurança. As atuais características do local, tanto físicas quanto funcionais, tem como conseqüência, por exemplo, a volumosa geração de resíduos diante dificuldade de mobilidade dos veículos da limpeza pública, e a elevada concentração de pessoas em pontos de baixa acessibilidade de viaturas de polícia, ambulâncias e carros de bombeiros, dentre outros aspectos. Além disso, há, também, dificuldades de abastecimento dos estabelecimentos e freqüentes conflitos de circulação envolvendo veículos e pedestres.
Diante disso, faz-se necessária uma intervenção no local, no sentido de preservar os recursos naturais da área, resguardar o espaço público para uso coletivo, e, sobretudo, proporcionar à população lazer mais seguro e salubre.

O PROJETO

A intervenção proposta pelo projeto aqui apresentado surgiu da análise minuciosa da atual configuração física e funcional do local, a qual apontou, como solução para a maioria dos problemas identificados, a construção da infra-estrutura de circulação da orla. Essa intervenção, com um todo, foi planejada de forma cuidadosa para não descaracterizar a paisagem natural nem modificar o uso e o funcionamento há anos consolidado no local, fatos que, se verificados após a execução do projeto, comprometeriam sua adequabilidade à situação.
Assim, foi projetada uma via litorânea, de traçado levemente sinuoso, paralela à praia, ligando as extremidades das Alamedas Enock Pinto e João Amanajás. Adjacente à via, entre esta e a praia, concebeu-se um sistema de passeios e canteiros, destinados à circulação de pedestres, ao lazer, e, sobretudo, ao apoio à prestação dos serviços de alimentação ali consolidados. Todo o complexo receberá iluminação, de maneira a viabilizar, com segurança, seu uso noturno.

Fig.14 - Projeto proposto. Planta Geral


A sinuosidade do traçado proposto, além de ser pertinente para intervenções nas quais, a exemplo da aqui apresentada, se pretende suavizar o impacto da urbanização de áreas naturais, deve-se, sobretudo, à intenção de sacrificar o menor número possível de árvores. As áreas pavimentadas foram projetadas de maneira a contornar e, assim, preservar, ao máximo, a vegetação existente, a qual foi criteriosamente estudada, avaliando-se os impactos da retirada ou permanência de espécimes. Essa análise ponderou o porte e a localização de cada árvore frente às necessidades e possibilidades do estabelecimento do sistema viário, e apenas propuseram-se remoções inevitáveis e/ou aceitáveis. Diante dessas imperiosas perdas, para mitigar seus impactos negativos, está projetado o plantio de, aproximadamente, 50 espécies.
O complexo de passeios e canteiros proposto está posicionado, como mencionado, adjacente à via, mas não se encerra nos limites desta. Esse sistema se desenvolve por toda a extensão da orla e abriga, sobretudo em seus canteiros, mesas à sombra das árvores, atendidas pelos bares e restaurantes ali estabelecidos. O projeto mantém o princípio do funcionamento de comércio e serviços com sucesso estabelecido e consolidado no local, organizando uma grande praça de alimentação ao ar livre, conservando, assim uma das principais características da área, considerada como grande responsável pela freqüência do lugar.

Fig. 15 - Atual situação da Orla

Fig. 16 - Futura situação da Orla


O projeto, como um todo, é concebido para ordenar física e funcionalmente o lugar. A consolidação de uma via litorânea formalizada para estruturar a circulação de veículos, resolvendo, também, suas permanências com a criação de 36 vagas de estacionamento, organizará de forma segregada os fluxos de acordo com suas naturezas, dando segurança, assim, aos pedestres. Ficarão claros, ainda, com a definição do alinhamento do sistema viário, os limites entre as propriedades públicas e privadas, de forma que se tenha livre acesso nas áreas coletivas e se proteja a privacidade dos lotes particulares.

Fig.17 - Projeto proposto. Planta geral . Detalhe



Outro limite formal estabelecido pelo projeto é a divisa entre a praia e a área urbana. Essa fronteira será marcada por um muro de arrimo que, erigido no local, além de desempenhar a função de marcar tal borda, também conterá o aterro sobre o qual o sistema viário será construído, e, ainda, evitará alagamentos eventualmente ocorridos em épocas de grandes marés. A criação do muro de arrimo, apesar de estabelecer o limite físico entre o passeio e a praia, não dificultará o acesso a esta, uma vez que haverá, a cada 18 metros aproximadamente, escadas e rampas para trânsito entre essas duas áreas.
De acordo com a filosofia do projeto, haverá poucas edificações na área a ser tratada. Serão construídos, além dos bancos em concreto distribuídos pelos passeios, quatro abrigos de pequeno porte, igualmente dotados de bancos, e uma ponte em concreto com guarda-corpos metálicos. Esse elemento será destinado à travessia exclusiva de pedestres sobre o pequeno curso d’água que corta transversalmente a orla, e substituirá a já mencionada estrutura em madeira nesse local existente que, de forma precária, atualmente cumpre a mesma função de circulação.

Fig.18 - Abrigo

Fig.19 - Abrigo

Fig.20 - Ponte

Houve especial atenção com relação à mobilidade e acessibilidade de portadores de necessidades especiais. O complexo urbanístico da orla será, integralmente, dotado de rampas de acesso a todos os ambientes, e os materiais de pavimentação terão acabamento plano para não oferecer nenhum desconforto à circulação. As ruas serão asfaltadas, e os passeios em blocos articulados com detalhes em concreto estampado.
O projeto, além da construção da orla, também tratará das vias de acesso a esta área justafluvial. As alamedas Enock Pinto, Maria do Carmo, Praia do Amor e João Amanajás serão, a exemplo da nova via litorânea, asfaltadas, sinalizadas e dotadas de sistema de drenagem. O trânsito será ordenado, de forma a otimizar o fluxo de veículos, propondo-se, em todas, mão única. Dessa forma far-se-á, na orla, sentido João Amanajás - Enock Pinto (leste – oeste), nas alamedas Enock Pinto e Praia do Amor, sentido praia – cidade (norte – sul), e nas alamedas Maria do Carmo e João Amanajás, sentido cidade – praia (sul – norte).
Como resultado final, o conjunto urbanístico proposto se submete, na medida do possível, às pré-existências naturais do lugar, de maneira a conservar ao máximo seu caráter bucólico, muito embora a construção da infra-estrutura acima descrita vá desconfigurar, ainda que de forma pouco significativa, a atual paisagem do local. Essa necessária mudança, porém, criará condições, hoje impossíveis, para ganhos coletivos, tanto da área em si quanto da comunidade que a usufrui. A urbanização da orla protegerá a mesma da degradação física por processos naturais, por exemplo, atuando o sistema de drenagem e o muro de arrimo na detenção de processos erosivos e no impedimento de eventuais cheias. As propriedades serão valorizadas e a população disporá com mais facilidade dos serviços públicos a que tem direito, já que as futuras novas condições do sistema viário permitirão ali chegar, com mais eficiência e rapidez, segurança, atendimento de saúde, limpeza pública, dentre outros.


Fig.21 - projeto propsto. Vista geral




Outro ganho com a construção da orla refere-se à micro-economia do local, a qual será incrementada com a implantação do novo cenário. Haverá mais possibilidades para elevação da qualidade na prestação de serviços por parte dos pequenos empresários ali estabelecidos, os quais terão melhores condições de abastecimento, dilatação de horário de funcionamento pela perspectiva do turno noturno, mais visibilidade para seus negócios, e, conseqüentemente, maior público e renda.
A Orla da Praia do Amor, uma vez urbanizada, proporcionará a integração à cidade de um patrimônio de grande qualidade ambiental e alto potencial como área de lazer, o qual, hoje, começa a ser ameaçado pela degradação, além de estar sub-utilizado pela pequena freqüência. A ação do poder público que o projeto enseja, ao mesmo tempo que eleva as possibilidades de gestão e conseqüente resguardo do lugar, democratiza amplamente seu acesso à população.

Fig.22 - Projeto proposto. Vista geral

Um comentário:

  1. Entao e o esgoto do moradore vao continuar a ser jogados nos cursos de agua que vao ate a praia?

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