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domingo, 17 de janeiro de 2010

Estação de Pesquisas Científicas Ferreira Penna - Floresta Nacional de Caxiuanã, Pará (1990)

A tarefa de planejar espaços, em local de difícil e demorado acesso, destinados a abrigar determinadas famílias (por significativos ou não intervalos de tempo) levanta algumas questões arquitetônicas não muito frequentes em projetos para meios urbanos.

Ao elaborar o ante-projeto da base física da "Estação de Pesquisas Ferreira Penna", as referidas questões incomuns como, por exemplo, as condições sociais do cotidiano dos pesquisadores e de suas respectivas famílias, e a solução de como otimizar o processo de construção dessa edificação, foram objeto de enorme preocupação de nossa equipe e condicionaram, sobremaneira, o resultado final da proposta apresentada.

O complexo arquitetônico foi concebido para evitar ao máximo que seus moradores/usuários sentissem o que representa o isolamento e a monotonia de viver, ainda que somente por determinados períodos de tempo, em um espaço restrito, o qual tem que ser dividido no dia-a-dia com o mesmo círculo de pessoas. Muito embora dotada de eficiente sistema de comunicações, com possantes antenas possibilitando que o rádio e a televisao, por exemplo, ajudem a quebrar a solidão da floresta, a solução do partido geral contribuiu bastante para amenizar esse problema.

A base da Estação de Pesquisas foi planejada de forma a fugir da composição compacta, economizadora de áreas, dos espaços rigorosamente projetados para evitar desperdícios, solução essa que, a nosso ver, oprime o seu usuario transformando-o em apenas uma peça de "uma perfeita máquina de morar/trabalhar".

A implantação dos blocos da proposta apresentada foi cuidadosamente pensada para que sua disposição proporcionasse simultaneamente a integração e a individualidade de seus edifícios componentes, fazendo com que o deslocamento do usuário no interior do complexo se tornasse um exercício sempre novo, no qual houvesse uma grande variedade de ângulos visuais a serem fruídos e/ou descobertos, minimizando, assim, o tédio de viver em um espaço delimitado. É necessário destacar, porém, que apesar dos blocos se posicionarem de maneira a garantir suas individualidades, a proposta não os dispersa pelo terreno disponível, o que criaria longas circulações e consequente mau funcionamento do conjunto.

A utilização de cores fortes (azul e amarelo) na pintura de alguns detalhes construtivos das edificações, as destacará do imenso e nativo verde, o qual funcionará como pano de fundo e que será mais um fator de alteração tão relevante do ritmo visual e porque nao dizer, do ritmo vital.

A localização da Estação de Pesquisas isolada na Floresta de Caxiuanã, levou-nos a propor soluções de construção que possibilitassem uma execução ágil dos serviços que irão ser desenvolvidos, já que toda uma estrutura de pessoal (técnicos, trabalhadores, etc.), isto é, de apoio logístico, será deslocada para residir no canteiro de obras, elevando sensivelmente, o custo final da edificação. Dessa forma, optou-se por utilizar, dentro dos limites possíveis, as facilidades executivas dos sistemas pré-fabricados, tanto na estrutura, com a adoção de todos os pisos (sejam no nível térreo ou no superior) em lajes pré-moldadas, como em alguns fechamentos verticais, empregando-se, nesses, esquadrias pré-montadas em PVC.

A utilização em todo o complexo dos pisos pré-fabricados deve-se, além do motivo já mencionado, a mais dois outros importantes fatores: 1o) Ao excesso de umidade constatado no piso natural - as referidas lajes serão montadas (nos niveis térreos inclusive nas passarelas cobertas) a 50 cm de altura do solo sobre baldrames em concreto ciclópico, protegendo, assim, as edificações das infiltrações oriundas do terreno; 2o) A uma questao de simbologia dos edifícios. Esse último aspecto sera abordado posteriormente.

A presença do PVC na proposta apresentada, não só nas esquadrias mas, também, nos forros, foi resultado da necessidade de prolongar ao máximo (e com a menor manutenção possível) o tempo de vida útil de todos os aspectos dos prédios, como a estrutura, as instalações, os revestimentos internos e externos e até mesmo o mobiliário.

O aspecto mais importance que norteou, entretanto, a concepção do conjunto foi a simbologia do mesmo, ou seja, a mensagem que ele, conjunto, deve expressar. Sua significação não está contida na forma de seus blocos, pois estes não apresentam nada inovador. Suas varandas, circulações e coberturas de 2 ou 4 águas compostas por telhas de barro são semelhantes às de diversos prédios encontrados em nossa região. A identidade da edificação está presente não apenas em seu partido geral, onde o princípio indígena de dispor as construções ao redor de um espaço de uso comunitário se materializa na proposta apresentada, como também no processo construtivo e na escolha dos materials a serem empregados. O concreto armado será utilizado apenas nos pilares das edificações de dois pavimentos e na caixa d'água. Nas construções térreas, estes serão em tijolo maciço. A madeira, abundante em toda a regiao, será utilizada apenas na estrutura de sustentação da cobertura, pois a adoção da pré-fabricação no sistema de execução dispensa o uso de fôrmas e escoramentos e a utilização do PVC substituirá as tradicionais esquadrias e forros em madeira.

Vale ressaltar que, intencionalmente, não utilizamos cavaco para a cobertura dos blocos (o que seria ideal para o clima da região) de vez que sua utilização demandaria significativos custos de manutenção e implicaria, também, na destruição o patrimônio florestal, já tão criminosamente abatido. Dessa forma, a economia que ressaltamos, não é apenas gestual, mas reflete a imperiosa preservação fauna/flora, tão necessárias ao equilíbrio ecológico da região e do país.

As altas temperaturas características no local da edificação exigiram soluções que aproveitassem ao maximo a ventilação existente. Dessa forma, tanto o partido geral, implantado para que a grande maioria de seus blocos componentes pudesse receber diretamente os ventos dominantes, como a configuração geral dos prédios, projetados com coberturas dotadas de exaustores de ar, longos beirais e aberturas generosas, compostas por sistema misto de venezianas e vidro, favorecem o bom condicionamento ambiental térmico exigido pelo clima adverso.

Objetivando reduzir ao máximo o percurso entre o trapiche de acesso (previamente locado pelo Museu Emílio Goeldi) e a recepção geral do complexo da Estação, o bloco da administração (bloco 01) - local onde a referida recepção foi projetada - foi implantado na parte centro-oriental do terreno disponível. Isso fez com que esse módulo, que também abriga o setor de coleções e de laboratórios, ficasse em poslção privilegiada em relação aos ventos dominantes, pois os recebe de frente, tanto na sua 1a. predominancia (nordeste) quanto na 2a. (norte). Além disso, sua configuração linear possibilita a exposição de praticamente todos os seus ambientes a ventilação direta, o que eleva as condições de conforto térmico do bloco em questão.

O bloco 02, quase que uma extensão do 01, por ser aquele que abrigará a oficina, a garagem e a casa de força , foi locado na extremidade direita do conjunto, pois os ruídos eventuais, provocados pelas atividades que ali serão desenvolvidas, poderiam, certamente, incomodar o restante da Estação.

O bloco 03, destinado aos alojamentos, repete, em planta, as linhas basicas do 01, rebatido sobre o eixo NO/SE da orientação do terreno. Apesar de haver edificações a sua frente, que, a princípio, bloqueariam a ventilação incidente sobre si, o referido bloco não é prejudicado nesse aspecto, pois além de ser desenvolvido em dois pavimentos (sendo o térreo destinado às redes de dormir e o superior às camas) e guardar razoável distância das construções do entorno, ele situa-se sobre um terreno de cota mais elevada, recebendo, assim, com facilidade, os ventos dominantes.

Ainda sobre o bloco 03, foram criadas, nos dois niveis, com guarda-corpos vazados, varandas contíguas aos alojamentos para dar maior amplitude aos espaços dos mesmos. No nível térreo, a divisão em duas partes do salão das redes resultou da intenção de reduzir o número de pessoas dormindo em um mesmo ambiente, ou de separá-los observando, certamente, suas próprias conveniências.

Implantado de maneira a ocupar o centro de todo o complexo, o pavilhão destinado a lazer/restaurante/serviços é o responsável pelo apoio a quase todas as atividades da Estação. Através dele passará a grande maioria dos fluxos de circulação existentes no conjunto. Apesar de não possuir a mesma forma linear dos blocos 01 e 03, o edifício em questão também desfruta de excelente posicionamento em relação aos ventos dominantes, pois tanto o restaurante quanto o salão de jogos (áreas de permanência mais prolongada) situam-se de frente para o nordeste. Na parte central de sua cobertura existe um exaustor que, além de promover a renovação do ar do ático, produz iluminação zenital da sala externa de estar. O espaço comunitário, bloco completamente aberto para múltiplos usos, também ficará integrado ao referido pavilhao.

O setor de estudos foi posicionado entre os blocos 01 e 03 com o objetivo de forçar a passagem diária dos usuários da Estação na frente da biblioteca, para estimular, ainda mais, a atividade de pesquisa bibliografica. É evidente que sua localizagao não é tao boa no que diz respeito a incidência dos ventos dominantes. Entretanto, não só a biblioteca (que precisa controlar o nivel de umidade para conservação de suas obras) mas também o auditório e a sala de computação necessitam de sistema de condicionamento de ar para funcionarem perfeitamente. O hall para exposições surgiu do alargamento da passarela que corta esse bloco ao meio, sendo iluminado zenitalmente por uma abertura no telhado semelhante à descrita no parágrafo anterior.

As residências dos auxiliares, do administrador e dos hóspedes, esta com 02 pavimentos, foram implantadas na extremidade esquerda do terreno, um pouco afastadas dos mencionados blocos, para que possuissem a privacidade e a individualidade que elas requerem. O afastamento existente entre essas construções permitirá que a ventilação incida livremente sobre elas e se beneficiem, devido ao posicionamento dos seus setores (social,,íntimo e serviço), varandas, salas e dormitórios, já que, apesar de diferentes em áreas e programas, as residências foram concebidas sob o mesmo critério de orientação. Suas coberturas, basicamente de 04 águas, possuem o mesmo exaustor de gases do atico para minimizar os ganhos térmicos no interior dessas habitações.

Finalmente, as residências dos vigilantes, projetadas na mesma linha das acima citadas, ainda nao estão com sua implantação decidida, conforme orientação do Museu Emílio Goeldi.

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